Companhia Brasileira de Teatro estreia PROJETO bRASIL em Brasília. Espetáculo, produzido com patrocínio da Petrobras, terá quatro apresentações no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB)
Dois anos de estrada com apresentação de peças do repertório, realização de seminários, troca de informações, palestras, experiências, leituras e vivências junto ao público formam a matéria-prima que construiu o novo espetáculo da Companhia Brasileira de Teatro. O PROJETO bRASIL, patrocinado pela Petrobras, teve estreia nacional no Rio de Janeiro em outubro de 2015, numa temporada de um mês no Espaço SESC e cumpre apresentações inéditas, de 14 a 17 de janeiro, no Centro Cultural Banco do Brasil Brasília (CCBB). Com direção de Marcio Abreu, traz no elenco os atores Giovana Soar, Nadja Naira e Rodrigo Bolzan e o músico Felipe Storino.
E desse mosaico construiu-se o espetáculo, primeiro módulo de um trabalho que prossegue. É, portanto, o resultado de uma intensa programação de pesquisa nas cinco regiões do país, que gerou um conjunto de performances. A criação coletiva que é o PROJETO bRASIL reflete o material recolhido pelos integrantes da companhia em circunstâncias variadíssimas, desde as apresentações clássicas até seminários e experiências pelas ruas das cidades brasileiras. O resultado está entrelaçado nas sequências que apresentam desde falas do ex-presidente do Uruguai José Mujica e da ministra francesa Christiane Taubira até performances que incluem a participação do público.
São cenas independentes, em formatos diversos, que privilegiam ora a fala, ora a música, o corpo, a luz – como define Marcio Abreu, “discursos”. “Mas não são discursos unívocos, nem iguais na forma”, diz o diretor. “É um conjunto bem heterogêneo que inclui palavra, performance, música, teatro. É mais sensorial do que narrativo; convoca, implica, provoca”. E esses artistas que se deixaram afetar pelos encontros com outros artistas brasileiros e com o público teatral, pela vivência espontânea, pelos muitos materiais, pensamentos e ações produzidos nesse trajeto trazem ao palco esse primeiro desdobramento da experiência. Não se trata, reitera Abreu, de um retrato documental, mas sim da reverberação artística da experiência.
Nós damos nomes e falamos de hipocrisia. E falamos de hipocrisia para aqueles que se recusam a ver estas famílias homoparentais e os seus filhos expostos aos acidentes e às vicissitudes da vida.
Nós vamos dar nome e nós falamos de egoísmo para aqueles que imaginam que uma instituição da República poderia estar restrita a uma categoria de cidadãos. Nós dizemos que sim, que o casamento aberto aos casais de mesmo sexo, o casamento aberto aos casais de mesmo sexo, ilustra bem a divisa da República, a liberdade de se escolher, a liberdade de decidir viver junto. Proclamamos com este texto a igualdade, a igualdade de todos os casais, a igualdade de todas as famílias.
(Discurso de Christiane Taubira, Ministra da Justiça na França)
Assumindo os riscos de criar um espetáculo a partir do olhar para o país num momento como o de hoje, a Companhia Brasileira de Teatro se dedicou à tarefa com o rigor técnico, o apreço pela pesquisa e a inquietação que lhe são peculiares. As rotas percorridas, as situações vividas, histórias e bibliografias lidas, o caminho foi aos poucos sendo construído. “Desde o começo não queríamos falar explicitamente sobre o país”, conta o diretor Marcio Abreu.
“Com o decorrer do trabalho, isto se concretizou: falar sem falar expressamente, tratar de outras coisas para tratar do Brasil. Esta outra dimensão de trabalho é um reflexo também da impossibilidade de falar sobre o país, num momento onde as coisas ainda estão acontecendo, numa velocidade muito grande”, destacou Abreu. A impossibilidade de dar conta de tudo por meio da palavra também refletiu no formato do espetáculo, com uma aproximação no rumo de outras formas de expressão como a performance.
você procura,procura e é impossível encontrar num preço que você possa pagar vai financiar pra vida toda é uma loucura os preços das coisas é enorme não dá pra conhecer tudo uma chuvarada uma água sem fim naquele rio que é mar que a gente não entende um mundo inteiro ali dentro cheio de bichos e gente e árvores gigantes na água e eu fiquei horas pra chegar um engarrafamento de quilômetros é uma dimensão muito grande isso aqui é enorme não dá pra conhecer tudo é avião pra cima e pra baixo a gente viaja pra fora e aqui dentro um susto eu tomei quando vi aquela gente vindo pra cima aqueles guardas armados até os dentes bomba de gás e todo mundo correndo.
(Marcio Abreu)
O PROJETO bRASIL nasceu da inserção do grupo na seleção pública de Manutenção de Companhias de Teatro da Petrobras, que concede patrocínio por três anos para pesquisa, montagem e circulação. “No primeiro ano, fizemos uma circulação com as cinco peças do nosso repertório pelas cinco regiões do Brasil”. Nesse período, dedicaram-se à troca de informações com artistas e anônimos, plateias e transeuntes.
Marcio Abreu e a companhia vêm de grandes sucessos no Brasil e no exterior como Vida (2010), Esta Criança (2012) e o celebradíssimo Krum (2015). Com essa nova montagem, delineiam-se novos rumos, de recriação da sua dramaturgia já muito particular, desde os ensaios até a montagem, afirmando-se em um novo desafio de linguagem. A partir deste trabalho, a Companhia Brasileira de Teatro pretende dar novos desdobramentos aos conteúdos do PROJETO bRASIL, com a possibilidade de partes da obra ganharem autonomia, podendo ser utilizadas como ponto de partida para outras ações e desdobrando-se em debates e encontros, por exemplo. No dia 15 de janeiro, a companhia irá realizar uma oficina aberta a estudantes e artistas de diversas áreas, com inscrições gratuitas, que poderão ser feitas pelo site http://goo.gl/forms/s0DFDSlz8k
A montagem
O preto sobre o preto está em cena, e num sobrepalco redondo se instala uma floresta de microfones – alguns são utilizados, outros não -, como se estivessem prontos para um discurso. E o discurso acontece, de fato, mas não da forma mais convencional. É neste cenário que são realizadas as cenas independentes que compõem o PROJETO bRASIL. Há momentos de falas propriamente ditas, inspirados em discursos reais, mas há também textos próprios e cenas que buscam outras possibilidades de discurso. São tratados temas como política, igualdade, consumo exacerbado, economia de mercado, ética, o caráter descartável de tudo na nossa sociedade, a ânsia por compreender e se comunicar. Outras questões remetem ao trabalho do grupo, como o papel do ator, do teatro e da arte. Os figurinos, também em preto, remetem a um “fim de festa”, define Marcio.
Serviço
PROJETO bRASIL em Brasília
Dias 14, 15, 16 e 17 de Janeiro
Horários: quinta a sábado as 21h, domingo as 20h.
Ingressos: R$10,00 e R$5,00
(funcionários da Petrobras com crachá e clientes Petrobras com cartão pagam meia entrada na compra de até 02 ingressos)
Inscrições para as oficinas: http://goo.gl/forms/s0DFDSlz8k
Informações:(61) 3108-7600
Classificação indicativa: 16 anos
Ficha técnica
Direção: Marcio Abreu
Elenco: Giovana Soar, Nadja Naira e Rodrigo Bolzan
Músico: Felipe Storino
Dramaturgia: Giovana Soar, Marcio Abreu, Nadja Naira, Rodrigo Bolzan
Trilha e efeitos sonoros: Felipe Storino
Assistência de Direção:Nadja Naira
Direção de Movimento: Marcia Rubin
Orientação de texto e consultoria vocal:Babaya
Iluminação:Nadja Naira e Beto Bruel
Cenografia e contrarregragem: Fernando Marés
Figurino:Ticiana Passos
Direção de Produção e Administração: Cássia Damasceno
Produção Executiva: Isadora Flores
Produção e operação técnica: Henrique Linhares
Produção local: Milca Luna
Projeto Gráfico: 45JJ
Fotos:ElenizeDezgeniski, Marcelo Almeida e Nana Moraes
Assessoria de Imprensa: Fabiano Camargo (FC Comunicação)
Cenotécnico: Anderson Quinsler
Artistas Colaboradores: Ranieri Gonzalez, Edson Rocha, Renata Sorrah, Cássia Damasceno
Oficinas de aprimoramento: Eleonora Fabião, Erelisa Vieira
Seminários: Eleonora Fabião, Mario Hélio Gomes de Lima, André Egg, Sandra Stroparo, Itaércio Rocha e Aly Muritiba.
Entrevistas e Encontros: Dona Eva Sopher, Hélio Eichbauer, Maestro Letieres Leite, Sr. DimitriGanzelevitch, Fabiano de Freitas e Teatro de Extremos, Favela Força, Bruno Meirinho, Ilê Ayê
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